RPG — Imersão e o Jogo Teatral [Parte 1 — Introdução]

Anaíse
4 min readJun 2, 2019

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Olá pessoal, tudo bom? Esse é o primeiro post de uma série que estou fazendo sobre o tema!

Sou nova por aqui mas tenho acompanhado — nos grupos de Facebook da vida — algumas discussões a respeito de RPG e como melhorar a imersão dos jogadores. É um assunto que me apetece desde que comecei a jogar, há uns 15 anos atrás.

Quando se questiona sobre imersão em jogo percebo que muito se fala em trazer para a mesa acessórios (props), trilha sonora, miniaturas, cartões, peças de figurino, fumaça, show pirotécnico, etc etc. De fato, essas coisas podem ser bem legais e contribuir para que os jogadores se sintam mais dentro desse universo. No entanto, elas não devem ser o cerne, e acredito que em excesso elas podem mais atrapalhar do que ajudar.

A melhor coisa que você pode trazer para a mesa pra que haja uma experiência mais imersiva são vocês mesmos, os jogadores.
“Mas Anaíse, a gente tá falando em coisas pra complementar a experiência. Os jogadores já estão lá!”
Será que estão mesmo?

Pra explicar o meu ponto de vista vou falar um pouquinho da minha trajetória. Eu sou atriz e cantora, formada em Teatro pela UFPB, tenho uma pós em interpretação para musicais e diversos cursos e oficinas na área, além de ter participado de vários espetáculos. Sempre busco levar elementos do RPG para o meu trabalho e vice-versa. Defendo que características do RPG podem ser também utilizadas no Teatro como forma de trabalhar a interpretação. Hoje quero falar um pouco do que eu acredito que o Teatro pode contribuir com o RPG: a PRESENÇA!

É impossível fazer um bom ensaio, um bom espetáculo ou uma boa sessão de RPG se os jogadores (atores inclusos, pois teatro é jogo) não estiverem de fato ali. Mas como é que faz pra estar presente? Como deixar as coisas de fora onde elas pertencem — do lado de fora?

Tirando as coisas óbvias como não mexer no celular, não ficar fofocando com o coleguinha, não ficar offando ou falando de assuntos alheios ao que está acontecendo, etc etc. Isso faz parte da presença individual.
O processo de fazer um grupo desligar-se do mundo exterior pra se fazer presente vai muito além disso. Envolve concentração, empatia e sinergia (narrador e diretor inclusos!).

Parte importantíssima do ensaio de qualquer grupo de teatro é o aquecimento. E não se trata simplesmente daquele puxa aqui e estica acolá de academia. Ele pode existir sim, geralmente no início, pra dar aquela acordada no corpo — mas acima de tudo é preciso ter um objetivo.

Vou dar alguns exemplos de ensaios que participei: Antes de entrar na sala de ensaio, um por um, batíamos duas palmas diante da porta e colocamos o pé para dentro pisando forte e dizendo, cada um a seu modo, “Cheguei!”. Havia jogos em que era preciso estar atentos à próxima ação dos colegas, pois teríamos que reagir imediatamente. Trabalhávamos maneiras diferentes de andar, de olhar, de dizer oi. Encaixávamos falas dos personagens em interações…Tudo é planejado e executado para que os atores COMPARTILHEM a experiência e mantenham o foco mesmo estando fora de cena, ou mesmo achando a atuação do colega desinteressante, ou mesmo que parem pra tomar água.

É a consciência coletiva de que não se pode deixar a peteca cair, é saber que jogar com o outro envolve dividir, ceder, dar espaço e ajudar. Sem isso, não adianta ter acessório — o grupo simplesmente não vai funcionar, porque não se joga individualmente.

A gente fica tão concentrado nesses aquecimentos que a maioria das vezes nem lembra do emprego que quer largar, da briga que teve com a família, dos grupos de facebook, dos memes, das fofocas no whatsapp, do babado que queria comentar com o colega…porque se o meu foco não está no grupo, o grupo inteiro é prejudicado.

Seria uma experiência interessante, se as mesas conseguissem incorporar pelo menos um pouquinho desse processo, todos teriam não só um jogo mais imersivo mas também teriam efetivamente algumas horinhas dedicadas única e exclusivamente a si mesmos, ao lazer, à diversão, àquele momento.

Pessoalmente, nunca experimentei aplicar processos teatrais em mesas de RPG (Adoraria! Me convidem!), entretanto, observando por em ensaios para espetáculos ou experiências de grupos teatrais, a diferença no resultado era nítida — quando fazíamos o processo de concentração e quando não fazíamos e só chegávamos direto. As piores performances que fiz/assisti foram aquelas em que o grupo ficou disperso por algum motivo e não fizemos o processo de aquecimento/concentração. Se não há foco e concentração, a interpretação fica prejudicada e consequentemente a imersão e quando é assim, acessórios e extras não servem de nada. Então antes de pensar em música, em props e afins, acho que seria muito benéfico para os grupos de RPG trazer esse momento de concentração antes da mesa começar. Aprender a estar presente.

Este post é apenas uma introdução ao assunto. Pretendo fazer uma série de posts propondo aquecimentos e jogos que podem ser feitos antes de cada sessão, pra melhorar a interação, interpretação, a sintonia e a experiência pessoal do grupo. Se ninguém curtir pelo menos fica pra meu uso pessoal. =p

Obrigada a quem leu até aqui! Quem quiser, bora trocar uma ideia sobre isso! Adoro!
Abraços! ❤

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Anaíse
Anaíse

Written by Anaíse

Atriz, cantora e pet sitter. Meio-elfa barda e humana artífice nas horas vagas.

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